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domingo, 31 de agosto de 2014

Vale a pena ouvir de novo... “Quem me leva os meus fantasmas”.


De que serve ter o mapa se o fim está traçado
De que serve a terra à vista se o barco está parado
De que serve ter a chave se a porta está aberta
De que servem as palavras se a casa está deserta.

Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada

Aquele era o tempo em que as sombras se abriam
Em que homens negavam o que outros erguiam
Eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta

Compositor: Pedro Abrunhosa

Link para ouvir Pedro Abrunhosa: 


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Grafismo nr. 59 - Sobre nossa efemeridade


Quando o brilho dos teus olhos se apagar,
a lápide do mármore eterno que te cobrirá
não refletirá a tua efêmera beleza.

Fernando Bandeira
Do livro "Folhas brasileiras", 2010.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Supostas prisões - Parte II


Há prisões que badalam os seus sinos,
chamando os inocentes ou pobres pecadores
às suas celas de doutrinas, para as quais
os incautos prisioneiros caminham
ainda cheios de esperanças.

Há prisões que prendem os seus amores
em reais horrores, e machucam por dentro e fora.

Há prisões onde o espancamento declarado
espanta a Declaração dos Direitos Humanos.

Há prisões até entre os pretensos imortais,
às vezes presos às suas vaidades inomináveis.

Há prisões em parcos recursos para a educação,
capazes de aprisionarem gerações e gerações.

Há prisões em si mesmo, as quais prendem mais
do que as grades de metais das cadeias,
donde é difícil se soltar. Necessitam psicólogos,
psiquiatras, quais carcereiros, para
ajudar na soltura de traumas e tramas
das celas escuras do inconsciente.

Há prisões em diversos tipos de transtornos
mentais, físicos e emocionais.

Há prisões em trabalhos que de nada libertam,
são meras formas de escravidões, modernas
senzalas para negros, brancos, pardos ou não.

Há prisões em palácios com as suas cercas elétricas,
portões eletrônicos e altos muros de medo.

Há prisões em burocratas justiças e suas
lentidões e, ainda, em injustas legislações.


Há prisões nas sarjetas e em maltrapilhos
famintos de igualdade e fraternidade.

Há prisões que prendem os pais e os filhos
em distâncias não transpostas. 
Há prisões supostas ou não, mas o ser, enfim,
anseia pela vida e pela liberdade.

William Whitman
(Do livro "Sonho e pó", 2013)

sábado, 16 de agosto de 2014

Supostas prisões - Parte I

“A liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Cecília Meireles

Há prisões neste mundo, em doenças
que prendem os moribundos
aos seus leitos de dores, dos quais
a morte vem depois libertar.

Há prisões em corpos esculturais,
presos às suas paixões e a
determinados padrões e, também, em
prazeres do sexo, do poder e da fama.

Há prisões hedonistas, masoquistas e sádicas.
Há prisões em deficiências, limitações,
as quais se tentam superar.
Estampadas em telas de artistas e
em livros de literatura, que delas, por fim,
querem se libertar.

Há prisões em tristezas contidas, depressões,
em frases não ditas, em dores conscientes,
confessas, dissimuladas, há prisões.

Há prisões não supostas em vícios vários,
a princípio prazerosos, mas em formato de
algemas que fazem gemer depois...
 
William Whitman
(Do livro "Sonho e pó", 2013)


domingo, 10 de agosto de 2014

Milagreiro



Agora vamos ter os girassóis
do fim do ano
e o calor vem desumano
tudo irá se expandir
crescer com as águas
quiçá, amores nos corações
e um santeiro,
milagreiro
prevê a dor
de terceiros
e diz que a vida
é feita de ilusão

e um santeiro,
milagreiro
prevê a dor
de terceiros
e diz que a vida
é feita de ilusão

aquela que um dia o fez sonhar
se foi com o outro
no dia em que os dois
se casariam por amor
ele aluou
hoje o seu pesar
cintila nos varais
usou as sete vidas
e não foi feliz jamais
toda a imensidão
passou pela vida
e foi cair na solidão

mais um santo para esculpir é o que lhe vale
pra evitar que o rancor suas ervas espalhe

Compositor: Djavan
Intérpretes: Cássia Eller e Djavan